Crônicas da Bola: Perdemos para poder voltar a ganhar.

Nathalia Maia
5 min readJan 17, 2023

O final de 2022 e início 2023 foi trágico ao futebol brasileiro, perdemos para Croácia, perdemos o Rei, perdemos Dinamite e ainda perdemos como País pelos acontecimentos do dia 08 de janeiro de 2023 em Brasília, mas o papo aqui é futebol, especificamente Copa do Mundo.

Em um breve relembrar dos fatos, em jogo duríssimo contra a Croácia — que taticamente superou o técnico Tite desde os primeiros momentos do jogo — conseguimos abrir o placar em uma jogada antológica de Neymar no primeiro tempo da prorrogação. O jogo, então, parecia resolvido após mais de 2 horas de unhas roídas e tensão por todo Brasil.

No entanto, o que nos aguardava era uma falha defensiva que possibilitaria a Croácia empatar o jogo faltando 4 minutos para o apito final e, posteriormente, ganhar a disputa de pênaltis, sem que Neymar — melhor batedor de pênaltis do mundo — sequer fizesse sua cobrança.

Após o fim de jogo e nas semanas seguintes estouraram análises inflamadas na dor da eliminação e inúmeros culpados apontados: falta de vontade, cabelos pintados, falta de foco, carne de ouro, treinador limitado. Todas, na minha humilde opinião, um pouco exageradas e aquelas não relacionadas ao desempenho desportivo completamente infundadas.

Honestamente não é a cor do seu cabelo ou o que você come que muda o resultado de uma partida de futebol de atletas de altíssimo nível. Tão pouco me parece justo alegar falta de foco e vontade de atletas que, em sua maioria, ascendem de realidades sociais adversas e se orgulham e se dispõe a vestir a blusa da Seleção — em um país que, caso não fossem atletas de futebol, botaria todos os obstáculos contra eles — e ir jogar uma competição sobre uma enorme pressão de toda uma nação que sempre possui uma única expectativa para se satisfazer: a taça.

É compreensível a frustração coletiva, o futebol se tornou uma das poucas coisas que nos trazem orgulho enquanto brasileiros, somos os melhores. Pelé nos botou no mapa, encantou o mundo, e podemos dizer que não só somos a melhor seleção, como tivemos o melhor jogador da história.

Contudo, buscando uma reflexão mais sóbria após mais de um mês, a realidade é que enfrentamos uma seleção vice campeã mundial que soube taticamente envolver a seleção brasileira e montar um esquema de jogo que potencializou suas virtudes — o controle do meio campo — e anulou as nossas. Nos faltou leitura tática do treinador e uma pitada de sorte, que está sempre envolta no futebol, afinal aquela jogada da Croácia poderia ter dado errado de um milhão de formas, mas não deu.

Então perdemos. Depois perdemos o Rei, com uma vexatória baixa presença de ídolos do futebol brasileiro nas homenagens finais ao maior de todos. Depois perdemos Roberto Dinamite, maior artilheiro do campeonato brasileiro, grande ídolo do Vasco, em que vimos, ao menos, melhor presença do que no velório do Rei e presença de importantes figuras de todos os rivais cariocas do cruz-maltino.

Como eu disse anteriormente, futebol é negócio que mexe conosco, brasileiros, mexe com nossa paixão e sobretudo com o nosso orgulho. Mas para quem é apaixonado por esse esporte existe uma máxima, para ele e para vida, que nós brasileiros tendemos a ter dificuldade a encarar na amarelinha: as vezes é necessário perder para podermos ganhar.

O futebol é apaixonante por ser muito mais que um esporte, ele sempre tem um quê de epopeia, de histórias impossíveis e heróis improváveis que envolvem seu enredo dramático e deleitam a todos com o final.

Vejam bem, Lionel Messi em sua quarta e última copa foi finalmente capaz de conduzir a seleção Argentina a um título mundial, após perder uma final em 2014 para Alemanha e ter tido uma carreira inteira questionada de não ser capaz de realizar as maravilhas que realizava no seu clube pela Seleção.

A Seleção Brasileira também é marcada pela dramaturgia da bola. Em 1950 tivemos a oportunidade de ganhar em casa no Maracanã nossa primeira copa, veio o Maracanazo. Em 1958, desacreditados internamente no primeiro momento, pudemos finalmente conquistar a tão sonhada glória e repetir a dose em 1962.

Pelé, personagem à parte, apesar de 2 títulos mundiais, chegou na sua quarta copa contestado pela idade e com histórico de lesões em todas as copas que disputara. Em 1970, fez sua melhor Copa, não se lesionou e garantiu mais um caneco à Seleção.

Em 1994, após sucessivas derrotas e eliminações, chegamos a mais uma vitória, após nosso maior jejum, de 24 anos. Em 1998, mais um grande trauma, derrotados na final pela França e em 2002 trouxemos o penta para casa.

O futebol, como eu disse, é também epopeia. Na próxima copa, mais uma vez, estaremos há 24 anos sem conquistas, e acabamos de viver, ao meu ver, mais um drama. De 2006 para cá, acumulamos derrotas, mas eu vejo esta para a Croácia como a mais dolorida, pois existiam muitos fundamentos para verdadeiramente acreditar.

É evidente que o brasileiro sempre, racionalmente ou não, acredita que a Seleção vai ganhar a Copa do Mundo. Mas esse ano, especialmente, tínhamos o trabalho, tínhamos os craques e tínhamos o jogo vistoso, todos os elementos para sambar nosso caminho até a taça. Como também todos os elementos para uma dolorosa derrota, a qual vivenciamos.

Em 2006, a Seleção foi aquém do que poderia jogar, as Seleções de 2010, 2014 e 2018 não apresentavam, ao meu ver, de longe, a qualidade da atual. Para aqueles que estão sentindo falta: 2014 não foi um grande trauma? Indubitvalmente, mas foi humilhante, fato que não ajuda no amadurecimento de uma geração, muito mais na sua completa corrosão, como pudemos ver com a grande maioria dos atletas presentes em campo no 7x1.

Em 2022 assistimos à primeira copa de uma nova e promissora geração brasileira que ainda muito brilhará com a amarelinha. Para eles, sobretudo, a derrota ajudará a voltar a ganhar, o dissabor da eliminação ficará remoendo em seu interior para 2026. Poderíamos ter ganho da Croácia, isso é inegável, assim como tínhamos melhor nível técnico e isso não deverá sair de suas memórias. O que faltou para nós? Dei algumas explicações, mas talvez a juventude da seleção também seja um fator, ainda que seja difícil explicar.

Sempre relevante pontuar que talvez devam, diferentemente dos já consagrados ídolos, ter o Rei na memória, pois perdemos o Rei mas não precisamos perder a majestade, e o futebol, em seu fator mágico, é muito além das 4 linhas.

Ademais, existe outro fator que me leva a crer que seja possível vencermos novamente, Neymar. Figura pública tão controversa e contestável para muitos brasileiros — alguns gostam, outros desgostam e há quem fique no meio do caminho — é inegavelmente nosso maior craque desde os Ronaldos. O camisa 10 chegará na sua quarta Copa em 2026 e foi acometido por lesões em todas as que disputou até agora, como outro alguém citado anteriormente… Talvez como o Rei e como Messi, possa cumprir em sua última copa sua melhor aparição e garantir a tão desejada taça novamente ao povo brasileiro.

Posso ter razão, ou estar redondamente enganada, em 3 anos e meio iremos descobrir. Contudo, eu amo esse esporte epopeico chamado futebol e mal posso esperar pelo o que nos aguarda. Voltaremos a ganhar.

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Nathalia Maia

Crônicas e textos de opinião sobre o futebol por uma jovem fanática.